Expansão da Petrobras está apenas começando
Annie Gasnier – Le Monde
Correspondente no Rio de Janeiro
A extensão das reservas de petróleo do Brasil ainda é um mistério, mas a Petrobras não pára de se valorizar. A companhia petroleira nacional brasileira tornou-se a terceira maior empresa das Américas, atrás da Exxon Mobil e da General Electric, e na frente da Microsoft. O seu valor na Bolsa aproxima-se dos US$ 300 bilhões.
Esta valorização está vinculada a uma sucessão de descobertas em alto-mar (“offshore”) que vêm impulsionando o gigante sul-americano para o rol dos principais produtores de petróleo, enquanto no mesmo momento os preços do barril alcançaram valores recordes. Além da bacia de Campos, que a Petrobras vem explorando há quarenta anos, a descoberta, em outubro de 2007, na bacia de Santos, da jazida Tupi, que teria uma capacidade da ordem de 5 a 8 bilhões de barris, aumentou para 11,7 bilhões de barris as reservas do Brasil. Mas elas poderiam revelar ser muito mais consideráveis.
O diretor geral da Agência Nacional do Petróleo, Haroldo Lima, anunciou em abril, antes de moderar suas declarações pouco depois, que a jazida Carioca que acabara de ser descoberta poderia representar 33 bilhões de barris. Com isso, o Brasil e consequentemente a companhia nacional Petrobras poderiam estar prestes a administrar as terceiras maiores reservas mundiais.
A 6.000 metros de profundidade
Em 2006, o país já havia alcançado a auto-suficiência, equilibrando produção e consumo em 2,3 milhões de barris por dia. Agora ele está no processo de tornar-se nos próximos anos um grande produtor e exportador. “Mas a exploração dos seus recursos só se justificará se o preço do barril permanecer elevado”, sublinha o especialista Roberto Kishinami. Em todo caso, as autoridades já estão se preparando para o seu papel de futura potência petroleira. Elas estão discutindo a repartição dos royalties, equivalentes a 5% e 10% da receita anual, sinalizando a sua vontade de ver a nação como um todo ser beneficiada pelos lucros.
Contudo, em 1997, a Petrobras abriu uma parte do seu capital para acionistas. Atualmente, o governo procura evitar que o país veja “escapulir” uma parte dos lucros que estão por vir, estudando, entre outros, a idéia de fundar uma “Petrobras 2”, que seria de propriedade integral do Estado. Por sua vez, o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, preferiria modular contratos e royalties, dependendo das áreas exploradas.
Em todo caso, os recursos recém descobertos estão obrigando a Petrobras a enfrentar novos desafios humanos, financeiros e técnicos. Para a exploração em águas profundas, a Petrobras possui um importante know-how, pois ela já vem extraindo a maior parte do seu petróleo no oceano, a 250 km da orla. Em 2007, a Petrobras conseguiu descer a 2.777 metros abaixo do nível do mar. Mas a jazida Tupi estaria situada a 6.000 metros, debaixo de uma camada de sal de 2.000 metros. Ora, essas são condições de exploração inéditas e arriscadas, para as quais deverão ser necessárias cerca de quarenta sondas. Doze delas já teriam sido encomendadas em esquema de emergência, no exterior, enquanto as outras estão sendo desenvolvidas no Brasil.
Prevendo duplicar a sua frota, a Petrobras empreendeu um programa de modernização que inclui a compra de 146 navios, ou seja, um investimento de US$ 5 bilhões (cerca de R$ 8,2 bilhões) em seis anos. Uma vez que a capacidade dos estaleiros brasileiros continua insuficiente, outros locais de construção estão sendo estudados. O parque de refinarias também precisa aumentar, e três projetos já estão prontos. A Petrobras já empenhou o seu investimento mais consistente em torno do complexo petroquímico de Itaboraí – RJ, o Comperj, a 45 km do Rio de Janeiro: este custará US$ 8,3 bilhões (R$ 13,6 bilhões) até 2012, e envolverá a criação de 170.000 empregos diretos e indiretos.
Trata-se de um futuro promissor, diante do qual José Sergio Gabrielli prefere manter-se ponderado. O presidente da Petrobras teme que essas descobertas “contribuam, por meio de um forte aumento das vendas de petróleo, para a valorização da moeda brasileira, e, com isso, para a redução das exportações, além de um possível processo de desindustrialização do Brasil”.